Planetologia comparada
Com patrocínio da NASA, cientistas brasileiros estão tentando desvendar novos segredos de Marte cruzando dados de áreas dos dois planetas que apresentam semelhanças geológicas.
Estar cada dia mais perto de Marte, sem precisar de uma nave espacial, é, para o geólogo Carlos Roberto de Souza Filho, professor do Instituto de Geociências (IG) da Unicamp, uma das peculiaridades mais interessantes do seu trabalho no momento.
O projeto de planetologia comparada estuda ambientes análogos entre os planetas Terra e Marte. [Imagem: NASA]
O docente, alunos do IG e uma numerosa equipe de pesquisadores nacionais e internacionais estão envolvidos, nos últimos anos, em um projeto de planetologia comparada que estuda ambientes análogos entre os planetas Terra e Marte, sob patrocínio da Nasa.
Além do mérito e impacto do trabalho, ele tem revelado várias descobertas científicas, ainda que "a distância". Foi um trabalho desse tipo que revelou que Marte pode ter tido um oceano em 30% de sua superfície.
Sonda Mars Reconnaissance Orbiter. [Imagem: NASA]
Astronautas e robôs em Marte
Carlos Roberto sugere que tais avanços não devem parar mais. "Se nós, seres humanos, pretendemos estender nossa existência por vários outros milhares de anos, não há outra alternativa senão aquela da exploração espacial, de outros planetas terrestres. No caso de Marte, em algum momento nas próximas décadas, nós deveremos ter uma missão tripulada, com uma primeira equipe atingindo esse feito extraordinário. Torço para que tenhamos muitos geólogos envolvidos em todas as fases, quem sabe pessoal formado pela Unicamp".
Do ponto de vista dos custos e dos riscos, situa ele, é muito melhor enviar numerosas missões não-tripuladas à Marte, particularmente as que incluam a locação de robôs e veículos automatizados no terreno e aéreos não-tripulados de baixa altitude, para o conhecimento detalhado do planeta.
A exploração através de programas robóticos atuais e futuros proporcionará os conhecimentos fundamentais para exploração mais segura e previsível de Marte por humanos. O problema é que, mesmo Marte tendo uma dimensão cerca de 50% menor que a Terra, o planeta ainda assim é enorme.
Os robôs, mesmo das gerações futuras, dificilmente terão autonomia suficiente de energia e robustez para cobrir grandes extensões num terreno tão heterogêneo e mesmo inóspito. "Neste caso, será fundamental manter os trabalhos que nós e outros especialistas estamos fazendo quanto ao estudo de ambientes análogos Terra-Marte. Estes estudos nortearão o envio de missões robóticas futuras para locais relevantes que possam revelar cada vez mais evidências sobre a presença de água líquida passada e presente, e talvez algum tipo de vida naquele planeta", considera o professor.
A exploração através de programas robóticos atuais e futuros proporcionará os conhecimentos fundamentais para exploração mais segura e previsível de Marte por humanos. O problema é que, mesmo Marte tendo uma dimensão cerca de 50% menor que a Terra, o planeta ainda assim é enorme.
Os robôs, mesmo das gerações futuras, dificilmente terão autonomia suficiente de energia e robustez para cobrir grandes extensões num terreno tão heterogêneo e mesmo inóspito. "Neste caso, será fundamental manter os trabalhos que nós e outros especialistas estamos fazendo quanto ao estudo de ambientes análogos Terra-Marte. Estes estudos nortearão o envio de missões robóticas futuras para locais relevantes que possam revelar cada vez mais evidências sobre a presença de água líquida passada e presente, e talvez algum tipo de vida naquele planeta", considera o professor.
Outras missões planetárias
Outros planetas do sistema solar também têm sido objeto de estudo por sistemas de sensoriamento remoto. Além de várias missões bem-sucedidas a Marte no último decênio, "também tivemos a primorosa missão Cassini-Huygens, patrocinada pela Nasa, para o planeta Saturno e sua lua Titan", observa Carlos Roberto.
A sonda Cassini, batizada em homenagem ao italiano Jean-Dominique Cassini (1625-1712), que descobriu quatro das dezenas de luas de Saturno: Jápeto (ou Iapetus), Reia (ou Rhea), Tétis (ou Tethys) e Dione, já completou mais de quatro anos em operação, gerando informações sem precedentes sobre aquele planeta, seus anéis e luas.
A missão Venus Express, da AEE, encontra-se em andamento no planeta homônimo, desde 2006. A missão Messenger tem como objetivo a investigação de Mercúrio - o satélite deverá entrar em órbita definitiva naquele planeta a partir de março de 2011. A exploração espacial, conclui ele, deu um grande salto de 2003 para cá, após um período grande de relativa estagnação.
Mars Science Laboratory, um robô alimentado por energia nuclear que deverá ser lançado em 2011. [Imagem: NASA]
Robôs móveis propiciam salto nas pesquisas
Em julho de 1997, a missão Mars Pathfinderobteve sucesso na colocação do pequeno jipe robótico Sojourner na superfície de Marte. Esta foi a primeira sonda terrestre que pousou em solo marciano, desde a era das sondas Vikings 1 e 2 (americanas) e das sondas Mars 2 e 3 (russas), na década de 70.
Embora tenha gerado uma coleção de imagens inéditas da região em torno do pouso, esse jipe robótico tinha uma possibilidade muito limitada de locomoção. Foi a partir de 2004, com a chegada dos jipes robóticos Spirit e Opportunity, que um salto substancial ocorreu nos estudos sobre Marte. A missão dos jipes robóticos era prevista para durar no máximo seis meses, mas eles continuam se locomovendo pela superfície marciana há seis anos.
Essa foi a primeira missão com robôs móveis, com possibilidade de locomoção a maiores distâncias. Ambos os jipes robóticos foram dotados de instrumentos para abrasão de materiais, análises microscópicas e espectroscópicas.
Quando os jipes robóticos chegaram a Marte, um deles, o Opportunity, caiu acidentalmente dentro de uma cratera. O que parecia um problema logo se revelou como um achado de sorte. Esta cratera, gerada pelo impacto de um meteorito, apresentava uma formação rochosa exposta no seu interior que continha numerosas evidências geológicas de que a rocha observada era de origem sedimentar e de que foi alterada superficialmente em ambiente evaporítico - ou seja, dois processos em que a profusão de água líquida é fundamental.
"Essa foi uma das principais descobertas dos últimos tempos em Ciências Planetárias", ratifica Carlos Roberto. "Com tantas situações favoráveis para o surgimento de algum tipo de vida em Marte, há uma boa possibilidade de que sejam encontrados indícios num futuro próximo".
Informações sobre Marte
Marte é um dos planetas mais próximos da Terra, em distância e constituição, compreendendo condições locais ainda "habitáveis". Considerando a melhor situação entre órbitas relativas (o que ocorre a cada 25 meses na Terra) e com um plano de uso mínimo de combustível, são necessários cerca de somente sete meses para atingir o planeta.
É um planeta coberto por sedimentos transportados pelo vento e possui uma fina atmosfera saturada em CO2. Algumas regiões são tão frias que o CO2 condensa-se sobre a superfície. Durante muito tempo, sustentou-se uma crença de que Marte seria um planeta "desértico e morto". Entretanto, Marte não foi e não é o que parece. Quase 40 anos de pesquisas baseadas em sensores imageadores e não-imageadores revelaram que o planeta pode ter sido similar a alguns ambientes conhecidos na Terra, com água líquida correndo em sua superfície.
Tudo indica que Marte teve uma história muito parecida com a Terra até determinado ponto de sua evolução geológica, incluindo a presença de amplos corpos d'água (talvez oceanos) em sua superfície. É um planeta rochoso com atmosfera, hidrosfera e clima. Apresenta registros de condições e materiais a partir dos quais a vida poderia ter surgido (ou ainda existir) naquele planeta, em analogia à Terra. Portanto, entender quando e o que aconteceu, para efetivamente explicar a sua distinta condição atual em relação à Terra, é um desafio que pode trazer repercussões relevantes para o futuro.
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